Bibliotecas públicas estão distribuindo uma quantidade absurda de comida grátis
Em toda a América, nas principais cidades das quais que você já ouviu falar e em incontáveis lugares que provavelmente nunca considerou, bibliotecários públicos estão trabalhando com parceiros locais, estaduais e nacionais para levar alimentos para aqueles que precisam durante a pandemia do COVID-19.
Mas espere – bibliotecários?
Sim, de fato. E, quando bibliotecários distribuem alimentos, eles fazem mais do que simplesmente distribuí-los.
Eles também usam os inúmeros recursos educacionais e de aprendizagem adquiridos ao longo da vida da biblioteca para enfrentar a insegurança alimentar com a qual muitos americanos lutam todos os dias.
Esta biblioteca estava pronta
Na verdade, as bibliotecas têm uma longa história de fornecimento de alimentos, desde hortas criadas para atenuar a fome durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial até a safra abundante de hortas comunitárias cultivadas em bibliotecas da América do Norte.
Mas a história não para por aí.
Na zona rural do Condado de Wilkes, Carolina do Norte, no sopé dos Montes Apalaches, a insegurança alimentar é tão grave que, em 2015, apenas cerca de 16 por cento das crianças elegíveis para refeições de verão gratuitas [refeições fornecidas no verão, o período de férias escolares nos EUA, quando as escolas deixam de distribuir alimentos aos estudantes] realmente as recebiam.
Para atender a essa necessidade, a Biblioteca do Condado de Wilkes começou a oferecer refeições gratuitas durante o recesso escolar, no verão.
Eles começaram com planos de doar somente 45 refeições para crianças locais, mas o programa foi tão popular que rapidamente se tornou o maior local de distribuição de alimentos durante o verão em todo o condado.
A biblioteca complementou as refeições que recebeu de um distrito escolar local com refeições preparadas por empresas locais, que foram incentivadas a utilizar produtos frescos doados por agricultores locais.
Nos anos seguintes, o programa se expandiu. A biblioteca não só distribui refeições e lanches grátis, mas também Market Bucks, fornecidos pelo departamento de saúde do condado, que as famílias podem resgatar por comida gratuita na feira local.
Portanto, quando o COVID-19 chegou, a Biblioteca do Condado de Wilkes estava pronta.
A gerente de serviços para jovens da biblioteca, Elizabeth Lee, me disse que uma das primeiras coisas que ela fez, quando a ordem de permanência em casa em todo o estado entrou em vigor no final de março, foi criar uma lista de lugares no Condado de Wilkes onde as pessoas poderiam ir buscar comida de graça.
Ela manteve esta lista atualizada e certificou-se de que estava fixada no topo das redes sociais da biblioteca, para que fosse uma das primeiras coisas que os usuários viam quando se conectavam à biblioteca online.
O programa normal de alimentação de verão da biblioteca foi cancelado devido à pandemia, mas eles continuam distribuindo Market Bucks como parte de seu programa de leitura de verão na calçada. Ao todo, disse Lee, cerca de 70 famílias pegaram Market Bucks na biblioteca no verão de 2020.
Leitura de verão, alimentação de verão
Desde 2008, o número de bibliotecas públicas nos Estados Unidos que alimentam crianças e famílias durante os meses de verão disparou. Programas inovadores estão florescendo de costa a costa.
À medida que essas iniciativas proliferam, financiadores, acadêmicos e formuladores de políticas tomam nota. O almoço na biblioteca da Califórnia inspirou uma série de estudos revisados por pares na revista Public Health Nutrition e recebeu US$ 1 milhão em financiamento suplementar do governador Gavin Newsom em 2019 para expandir o programa.
Minha pesquisa mostrou que, em 2017, pelo menos 1546 bibliotecas públicas distribuíram refeições de verão como parte do Programa de Alimentação de Verão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Dois anos depois, em 2019, dados do Serviço de Alimentação e Nutrição da agência mostram que em 2019 o número de bibliotecas que servem refeições de verão cresceu para mais de 2000.
Nos últimos três anos, a Biblioteca Pública de Denver tem trabalhado com ONGs e a secretaria de educação local para fornecer refeições de verão nas filiais da biblioteca em comunidades que têm escassez de alimentos ou que lidam com problemas de segurança.
Só em 2020, com famílias inteiras atingidas pelo COVID-19, o sistema de biblioteca de Denver serviu 5000 cafés da manhã e almoços para jovens e seus pais ou responsáveis.
Na verdade, nos últimos seis meses, bibliotecas públicas em toda a América do Norte se uniram a bancos de alimentos para continuar levando comida para quem precisa – em Chicago, Kansas City, Houston, São Francisco, San Diego, Cleveland, Phoenix, Toronto, Denver, Tucson, Nova York, Atlanta, Halifax, St. Louis, Baltimore, Columbus, Los Angeles e muitas regiões metropolitanas.
Segurança alimentar o ano todo
Muitos desses esforços de alimentação de verão em bibliotecas estão se transformando em programas de distribuição de alimentos durante todo o ano.
Em Cleveland, Julie Boxler, da Biblioteca Pública do Condado de Cuyahoga, faz parte de uma rede estadual de defesa, organizada pelo Fundo de Defesa às Crianças de Ohio, na qual as filiais da biblioteca com programas de alimentação de verão agora estão trabalhando com bancos de alimentos locais para oferecer serviços como distribuição de produtos durante todo o ano.
Em outro lugar, Shane Hoffman, da Biblioteca Pública de Plain City, em Ohio, ajudou a organizar o Team Vittles, um coletivo liderado por bibliotecários que defende que as bibliotecas apoiem a distribuição de alimentos durante a pandemia e além.
Na Califórnia, a Associação de Bibliotecas da Califórnia recebeu uma doação do Departamento de Serviços Sociais da Califórnia para ajudar as bibliotecas a promover “aprendizagem precoce, nutrição e acesso aos alimentos para crianças pequenas”.
Patrice Chamberlain, da Associação de Bibliotecas da Califórnia, disse que os programas de alimentação em bibliotecas têm um papel adicional e crítico em conectar crianças pequenas a uma gama mais ampla de serviços.
“Os programas de biblioteca para a primeira infância são uma grande oportunidade de parceria com departamentos de saúde locais, jardineiros experientes, etc.”, disse ela por e-mail, “para promover nutrição, atividade física e encorajar hábitos saudáveis.
Ela disse que esses programas até ajudam as crianças a experimentar novos alimentos.
Olhando para frente de uma forma mais ampla, disse Chamberlain, promovendo nutrição e alfabetização junto, pode abrir portas para melhores parcerias entre bibliotecas e serviços de saúde comunitários de todos os tipos.
Isso inclui um programa de “construção de hábitos saudáveis” que ela está desenvolvendo com o apoio do USDA para criar kits de atividades bilíngues inglês-espanhol para crianças e seus cuidadores. Os kits integram nutrição, atividade física, jardinagem – e, às vezes, até incluem um livro para ler.
Um fator crítico, disse ela, é que as bibliotecas não estão fazendo esse trabalho sozinhas. Em vez disso, elas estão compartilhando recursos para fortalecer o trabalho de várias organizações em nível local, estadual e federal.
Inovação em todos os lugares
Em High Point, Carolina do Norte, a biblioteca é a anfitriã e patrocinadora oficial do Mercado de Agricultores da cidade. Quando a pandemia atingiu o estado pela primeira vez, uma das primeiras coisas que a biblioteca fez foi trabalhar com os vendedores e a cidade para descobrir como abrir o mercado com segurança.
A equipe da biblioteca também fez atividades de divulgação para garantir que os residentes de baixa renda saibam que podem usar os benefícios nutricionais suplementares do USDA no mercado.
A necessidade que essas bibliotecas atendem parece infinita e, em todo o país, elas estão enfrentando o desafio com inovação de base.
Em Ohio, a Biblioteca Pública do Condado de Brown oferecia refeições com opção de pegue e leve em todas as quatro filiais.
A Biblioteca Pública Grafton-Midview trabalhou com Boys and Girls Club local para oferecer almoços de verão grátis – 634 no total, na verdade.
“Em circunstâncias normais”, escreveu Kari Mariner, funcionária da biblioteca de Grafton, “servimos almoços quentes cinco dias por semana e seguimos os almoços com uma atividade ou um pequeno programa”.
A Biblioteca Pública Perry Cook Memorial em Mt. Gilead, Ohio, serve como local de coleta para refeições semanais e, também, como ponto de distribuição de “super lanches” fornecidos pela Children’s Hunger Alliance.
Em Paducah, Kentucky, a van de refeições do distrito escolar abriu uma loja no estacionamento da biblioteca. A biblioteca também hospeda a Little Free Pantry, uma das muitas bibliotecas nos EUA que o fazem (PDF).
Em Pilot Mountain, Carolina do Norte, com população de 1500 habitantes, a despensa local gratuita ao ar livre é chamada de “Caixa de Bênção”. Foi instalada com a ajuda de uma tropa local de escoteiras. Os funcionários da biblioteca relatam que todas as semanas a caixa é esvaziada e reabastecida por membros necessitados da comunidade – e com alimentos para compartilhar.
Em Bucyrus, Ohio, o bibliotecário de uma criança disse que o fechamento por causa do COVID os viu colaborando com o banco de alimentos local para embalar sacolas de comida que foram distribuídas junto com almoços grátis. A biblioteca usava um formato “pegue e leve” em vez de servir refeições na sala comunitária do prédio; nos meses de junho e julho deste ano isso somava mais de 1000 refeições por mês.
A biblioteca em McAllen, Texas, transformou seu programa de alimentos de verão em um “pacote de refeição grátis” que oferece café da manhã e almoço, além de um lanche, para alunos do ensino fundamental para o ano letivo do outono de 2020.
A biblioteca pública The Globe, no Arizona, iniciou seu programa de refeições de verão no início, em março de 2020, logo no início da pandemia. De acordo com a diretora da biblioteca, Adria Ricke, a biblioteca foi solicitada em 15 de março para funcionar como um local de serviço de comida em meio ao fechamento de escolas por causa do COVID-19: “Aproveitamos a oportunidade e começamos a servir comida em 17 de março”.
Em Woodstock, Illinois, no início de fevereiro, a biblioteca “abriu uma pequena despensa de alimentos” e, quando a pandemia atingiu, os funcionários moveram a despensa para fora.
Servindo em várias missões
Esses programas estão proliferando em todo o país, nas bases: em Schuylerville, Nova York; Perry, Iowa; Loveland, Colorado; Midland, Texas; Condado de Wayne, Pensilvânica; e Condado de Contra Costa, Califórnia, as bibliotecas estão atendendo à crescente necessidade do público por segurança alimentar com inovação e inspiração.
Isso inclui oferecer acesso a refrigeradores abastecidos com alimentos frescos colhidos nas fazendas locais; distribuir produtos grátis mensalmente durante o mercado dos fazendeiros; formar parceria com bancos de alimentos locais e hospedar food trucks; receber bolsas para fornecer almoços para viagem; e enfileirando carrinhos cheios de produtos de graça.
Na Califórnia, o Coaching Corps e a Associação de Bibliotecas da Califórnia se uniram para redistribuir as caixas de produtos do programa Farmers to Families do USDA, que, antes da pandemia, teriam sido compradas por restaurantes e hotéis. Em vez disso, o Coaching Corps desviou seus voluntários para trazer esses produtos extras do sistema alimentar nacional para a biblioteca e outros locais. Ao longo de seis semanas, de acordo com Patrice Chamberlain da Associação de Bibliotecas, as bibliotecas em todo o estado distribuíram mais de 100000 libras de produtos aos membros da comunidade.
As bibliotecas participantes na Califórnia também foram capazes de impulsionar os programas de refeições de verão, promover seus recursos e distribuir livros para crianças.
A biblioteca em Eugene, Oregon, também distribuía livros em locais de refeições de verão.
Uma das histórias mais comoventes sobre a distribuição de alimentos por bibliotecários durante o COVID-19 foi publicada na Biblioteca Pública de Erie City, no Condado de Neosho, Kansas.
Em uma postagem no final de julho enviada por e-mail para seus colegas na Associação para Bibliotecas Pequenas e Rurais, a diretora da biblioteca Julie Kent descreveu um programa de compartilhamento de sementes que, cinco meses após a pandemia, passou de alguns pés de tomate no prédio fechado da biblioteca para um movimento comunitário de jardinagem doméstica.
Além das mudas de tomate, ela escreveu: “distribuímos sacos de sementes, cebolas e batatas para as famílias” e, apenas em um dia, distribuímos 100 plantes com instruções de plantio para cerca de 35 famílias.
No verão, ela escreveu, as famílias participantes começaram a trazer os produtos cultivados em casa, incluindo nectarinas, peras Anjou vermelhas, pimentão verde, milho e abóbora, “para qualquer um pegar”.
As bibliotecas públicas são instituições idiossincraticamente locais, e cada programa de partilha de alimentos cresceu a partir da base, com o apoio de parceiros locais. Enquanto alguns obtêm apoio dos governos federal e estadual, outros não.
Se você deseja iniciar um programa semelhante no local onde mora, o primeiro passo é entrar em contato com o bibliotecário local.
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- Tradução: Tiago Giordani - tiago.giordani.translator@gmail.com
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