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Consórcios de Poupança Comunitária se multiplicam à medida que o COVID-19 avança

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Artigo de Tina Jenkins Bell publicado originalmente na Shareable em 27.10.2020 e como capítulo do ebook gratuito Lesson's From the First Wave que retrata lições da primeira fase de pandemia. Tradução por Tiago Giordani - tiago.giordani.translator@gmail.com

Pessoas de uma comunidade contam dinheiro em volta de uma mesa
O dinheiro coletivo é coletado e contado. Crédito da foto: Hugh Allen

A furiosa pandemia do COVID-19 está levando rapidamente a níveis de desemprego da era da Grande Depressão, mas em meio à devastação econômica, pode ter desencadeado um renascimento de organizações e serviços de poupança e empréstimo vinculados à comunidade.

Em 2020, o COVID-19 fez com que empregadores cortassem 20,5 milhões de empregos em abril passado, triplicando a taxa de desemprego para 14,7% [Taxa de Desemprego Americana Triplica]; um estudo da Universidade de Illinois, enquanto isso, previu mais danos econômicos, na forma de 100.000 pequenas empresas fechando permanentemente [Pequenas Empresas na Pandemia].

Em contraste, pessoas de cor, populações desfavorecidas e aqueles que vivem em países em desenvolvimento, onde os serviços bancários formais são inexistentes, estão fortalecendo seus futuros financeiros criando e compartilhando fundos comunitários e construindo confiança por meio de grupos de poupança comunitária, incluindo ROSCAs (do inglês, rotating savings and credit associations, ou associações de poupança rotativa e crédito e ASCAs (do inglês, accumulated savings and credit associations, ou associações de poupança e créditos acumuladas).

Nota do tradutor: o conceito de ROSCAs se aproxima ao que conhecemos como "consórcio" no Brasil, embora com uma característica mais comunitária e será traduzida como "Consórcio Comunitário" nesse artigo. Já o ASCAs se aproxima mais ao que chamamos de "Associações de Crédito Mútuo".

Autoempoderamento da comunidade

Diana McKnight, 30 anos, defensora do desenvolvimento comunitário e econômico e uma residente no estado de Washington, disse que estava pesquisando maneiras de ajudar as pessoas de cor a se fortalecerem e se tornarem mais informadas e estratégicas sobre suas finanças. Finalmente, cerca de três meses atrás, quando o COVID-19 estava em seu pico inicial nos Estados Unidos, McKnight lançou o Extended Family 100, um Grupos de Poupança Rotativa e Crédito (Consórcio Comunitário) virtualmente administrado que consiste em familiares e amigos vindos de todo os Estados Unidos. No entanto, o vírus não foi a motivação de McKnight para iniciar o grupo. A inacessibilidade sistêmica dos serviços financeiros tradicionais para pessoas de cor foi sua maior influência.

“Lembro-me de fazer uma poupança e olhar um empréstimo para uma pessoa que solicitou uma conta, mas como tinha uma pontuação de crédito baixa, não conseguiu abrir a mesma”,

disse McKnight, que também trabalhou na área bancária por dez anos. “[Se] essa pessoa tivesse um emprego ou algo em que trabalhasse, ela deveria poder pegar US$ 5 e abrir uma conta.”

O déficit de opções tradicionais de financiamento para os desfavorecidos em uma nação onde os bancos e outras instituições financeiras são abundantes parecia “ridículo” para McKnight e é a razão pela qual esses grupos se tornaram um Consórcio Comunitário, conhecidos por muitos pseudônimos, incluindo sou-sous, kitties, ayutos, tontines, e hagbags, de forma a construir capital para objetivos de curto e longo prazo.

Consórcios Comunitários existem há séculos em vários lugares da América do Sul, África, China, Japão, Índia, Paquistão, Tailândia, Ilhas do Caribe e outros lugares.

Nos Estados Unidos, um “white paper” publicado Federal Reserve Bank of Philadelphia sugere que os Consórcio Comunitário apareceram pela primeira vez no início dos anos 1960. Mas, Dr. Caroline Shenaz-Hossein, Professora Associada de Negócios e Sociedade da Universidade de York em Toronto, Canadá, e fundadora do Coletivo Diverse Solidarity Economies (DiSE), disse que a existência de Consórcios Comunitários nos EUA e Canadá remonta às rotas e esquemas clandestinos de fuga de pessoas de cor em situação de escravidão nos EUA no começo do século XIX.

“Posso especular que, desde que os negros vieram para as Américas, existem cooperativas, como para as artes, músicas e comida. Com o dinheiro não é diferente” disse o Dr. Hossein.

Como tudo funciona

 

Um Consórcio Comunitário é um tipo de fundo de poupança criado por uma comunidade de pessoas que se reúnem contribuindo regularmente para um fundo comum.

Esses fundos são flexíveis e adaptáveis para comunidades rurais, urbanas ou virtuais.

Um tema comum para qualquer Consórcio Comunitários são seus aspectos democráticos e sociais. Os membros trabalham coletivamente para atingir metas individuais, educam-se e tomam decisões sobre as formas de operar, incluindo como e quando os fundos são coletados e desembolsados.

Depósitos e pagamentos geralmente acontecem quando os membros se reúnem. A localização pode ser física ou virtual, e as contribuições podem ser feitas em mãos ou por meio de transferências eletrônicas ou digitais de dinheiro.

O Consórcio Comunitário mais comum envolve contribuições regulares dentro de um determinado período de tempo, de vários meses a um ano inteiro. Cada vez que o dinheiro é coletado, essa quantia somada é dada a um membro.

A rotação desses fundos depende do número de pessoas no grupo. Por exemplo, doze membros podem contribuir com US$ 10 cada por mês, totalizando US$ 120. A cada mês, um membro recebe US$ 120 quando é sua vez. Essas contribuições não são empréstimos e os depositantes só podem recolher uma vez nesse ano.

Embora seja um método popular e a maioria dos membros do consórcio compartilhem preferências de fazer negócios com pessoas com quem mantêm relacionamentos, os consórcios podem variar em tamanho, operações e regras.

“Tivemos pessoas que preferiram sou-sous porque queriam um retorno imediato, e eu tive que dizer a eles que não é entre pessoas da mesma família (Extended Family)”, disse McKnight.

O Extended Family 100 ROSCA tem seu próprio conjunto de regras para seus membros seguirem.

  • Os membros se unem para atingir metas de longo prazo, como comprar uma casa, comprar a terra da família ou cobrir o custo de uma educação universitária.
  • Eles não compartilham seu dinheiro, embora compartilhem um compromisso comum de economizar US$ 100 mensais por pelo menos um ano.
  • Eles podem pedir emprestados a si mesmos somente depois de economizarem pelo menos US$ 800, mas cada saque deve ser reabastecido por um depósito imediato de US$ 100.
  • Suas contribuições eletrônicas vão para um sistema de contabilidade que permite que cada membro veja sua riqueza crescer e use suas mídias sociais (como Facebook) para recrutar novos membros, compartilhar informações e interagir com outras pessoas e grupos com ideias semelhantes.

Nos últimos anos, o entusiasmo pelo uso de plataformas de Consórcio Comunitário baseadas na internet aumentou. Plataformas colaborativas de empréstimo e poupança online, como eMoneyPool, Moneyfellows, e Pudlle, permitiram que indivíduos de várias partes dos Estados Unidos reunissem dinheiro e economizassem, além de gerenciar seus círculos de dinheiro.

Embora populares, Consórcios Comunitários apresentam desvantagens

Embora os Consórcios Comunitários tenham suas vantagens, também há desvantagens e riscos, incluindo a incapacidade de coletar juros sobre economias de longo prazo ou de coletar fundos exatamente quando necessário. Consórcios Comunitários não fazem parte dos sistemas bancários tradicionais, portanto, não são FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, ou Corporação Federal Asseguradora de Depósitos) ou segurados pelo governo federal ou qualquer outra entidade. Além disso, uma pessoa conhecida como banqueiro ou tesoureiro recolhe e mantém os fundos, o que já teve casos de má gestão, perda e roubo de fundos em alguns grupos.

No “Banker Ladies”, um documentário sobre Consórcios Comunitários produzido por DiSE, um imigrante somali, morando em Toronto, Canadá, e banqueira de seu ayuto ou consórcio comunitário, alegou que a polícia aprendeu os fundos de seu grupo durante uma apreensão de drogas e se recusou a devolver o dinheiro. Essa perda é apenas um exemplo de risco para os membros se o tesoureiro tiver problemas.

Além disso, as preocupações de saúde e segurança impostas pelo COVID-19 fizeram com que os membros diminuíssem suas reuniões ou desencorajassem os participantes idosos de participar das reuniões. De qualquer forma, quanto menos membros participarem, menos economizarão e mais leves serão seus resultados, de acordo com Hugh Allen, fundador da Village Savings and Loans, com sede na Alemanha.

“Um dos segredos da economia bem-sucedida é economizar pequenas quantias com frequência”, disse Allen. “Por exemplo, se eu puder economizar US$ 1 por semana, no final do mês, tenho US$ 4, mas se eu me comprometer a separar um valor só no final do mês, isso pode reduzir esse valor para US$ 2.”

Uma alternativa aos consórcios para pequenos empresários e empreendedores 

Allen observou o uso de ROSCAs entre pessoas, empresários e proprietários de pequenas empresas em vários países africanos por quase 30 anos.

Embora riscos semelhantes possam assombrar qualquer grupo de poupança comunitária, Allen achava que a tendência dos membros do consórcio de pegar dinheiro e não o pagar de volta era ineficaz para construir capital social do qual os grupos pudessem depender continuamente quando necessário.

Um modelo semelhante, mas distinto – acumulando poupanças e associações de crédito – diferem em que os membros juntam dinheiro para fins do empréstimo.

Os participantes das associações de crédito mútuo (ASCAs) podem dar o que podem, e o dinheiro do fundo semeia empréstimos que podem ser adquiridos quando necessário e pagos de volta em três meses com juros. No final de cada ano, todas as poupanças e todos os juros são repartidos proporcionalmente às contribuições de cada membro.

“No começo, eu pensei que era uma loucura porque eu disse, olhe para isso, as pessoas estão tirando dinheiro do bolso e colocando na mesa e depois pegando emprestado”, disse Allen. “Isso não faz sentido. Então o Diretor Nacional de minha organização disse que é isso que acontece quando vou ao meu banco. Economizo lá, mas também peço emprestado.”

Allen finalmente abraçou as associações de poupança e crédito mútuo no início dos anos 1990, depois de observar 14 grupos de poupança da África Ocidental realizando transações, completando seu ciclo, experimentando uma taxa de pagamento de 100% em seus empréstimos, bem como um aumento de juros de 20% em suas economias.

“A pessoa média que trabalha em um grupo de poupança “, disse ele, está ganhando 19% de juros sobre suas economias. “Tenho uma conta bancária e o retorno de minha poupança a cada ano é de um quarto de um por cento. Então, eu prefiro colocar meu dinheiro em um grupo de poupança. Infelizmente, não temos muitos na Alemanha.”

Hoje, o grupo de crédito mútuo de Allen oferece facilitação, treinamento e acompanhamento de desempenho para 3.832 grupos de economia, abrangendo 13 milhões de pessoas em 75 países. Ele disse que as mulheres representam aproximadamente 75% dos membros desses grupos.

Desafios Comuns e Oportunidades

Como os Consórcios, quando esses grupos se reúnem durante a era da pandemia, é necessário o uso de máscaras e, para sua própria segurança, idosos e crianças são desencorajados a comparecer. Os membros nem sempre podem fazer suas contribuições regulares, devido a perdas de emprego e problemas familiares, o que é outro desafio.

A natureza flexível dos Grupos de Crédito Mútuo (ASCAs) e Consórcios Comunitários (ROSCAs) ajudou esses grupos a sobreviver sem forçar os membros a deixar o coletivo.

“O COVID-19 criou algumas dificuldades, mas podemos nos adaptar quando necessário. Tínhamos uma integrante cuja mãe estava no hospital, então ela não teve a contribuição dela. Nós entendemos por que estamos todos juntos nisso”, disse McKnight.    

Linha com estrela

Para saber mais:

Resposta do Idealist frente ao Covid-19

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