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Artigo de Tom Llewellyn publicado originalmente na Shareable em 30.04.2020 e como capítulo do ebook gratuito Lesson's From the First Wave que retrata lições da primeira fase de pandemia.

Tradução por Tiago Giordani - tiago.giordani.translator@gmail.com

Revisão por Maira Lavalhegas - lavalhegas@hotmail.com

Foto da Michelle Mascarenhas-Swan
Foto de Brooke Anderson

Podemos atravessar a COVID-19 e a crise climática com uma transição justa? O que seria necessário para que isso acontecesse e como podemos começar nas comunidades locais desde já?

Nós perguntamos essas questões e muitas outras a Michelle Mascarenhas-Swan do Movement Generation Justice and Ecology Project.

Michelle é uma das fundadoras da Climate Justice Alliance e, recentemente, publicou um artigo descrevendo as 10 razões pelas quais a hora das Comunidades Permanentemente Organizadas é agora.

A seguir, um trecho do primeiro episódio da terceira temporada do podcasts The Response da Shareable.


Ouça a entrevista completa aqui (ou onde quer que possa acessar o podcasts a seguir):

Tom Llewellyn: Pode contar em poucas palavras a história de como a Movement Generation surgiu e explicar alguns dos trabalhos que tem feitos?

Michelle Mascarenhas-Swan: O movimento começou há cerca de 13 anos. Somos um coletivo de organizadores que saíram das organizações sindicais, justiça ambiental, justiça econômica, direitos trabalhistas, justiça racial, de uma série de diferentes frentes de organização. Foi um momento em que muitos dos nossos setores do movimento não estavam necessariamente envolvidos com uma compreensão de como as mudanças climáticas impactariam nossa compreensão do que seria necessário para transformar as situações em que nossas comunidades se encontravam.

Foi quando o furacão Katrina acabava de passar por Nova Orleans. Nossos movimentos sociais que estavam enraizados na justiça racial foram pegos de surpresa e realmente não tinham uma maneira muito integrada de responder a esse momento e realmente uma compreensão integrada do que estava acontecendo. Então, começamos as conversas e retiros para ajudar os organizadores a aprender sobre comida, água, energia, diversidade biológica e cultural para poderem enxergar isso sobre as lentes da justiça. Saber que a desigualdade social é uma forma de erosão ecológica.

Após mais de 500 anos de pilhagem de muitos lugares e de muitos povos, vemos que os sistemas de suporte à vida do próprio planeta do qual dependemos estão cada vez mais instáveis em termos da maneira como nós, humanos, precisamos deles para ser e sustentar a vida. Entendemos que o planeta vai ficar bem, a mãe Terra vai continuar, haverá um novo equilíbrio que será encontrado pelo Planeta, incluso o clima encontrará um novo equilíbrio.

A questão é: como nós faremos a transição? Será pelo caminho capitalista de desigualdade, violência, escassez e entesouramento de recursos? Ou será uma transição justa?

Tenho uma crença muito forte de que as pessoas podem se unir com base em nos valores. Eu vejo nas pessoas o tempo todo, a preocupação pela nossa vulnerabilidade. Isso me move constantemente. Nossa ancestral, Grace Lee Boggs, dizia o tempo todo para muitos de nós: “que horas são no relógio do mundo?” E “como você está se movendo desse lugar, ou desse entendimento de que você está aqui por uma razão, neste momento no relógio do mundo? Você pode mover as pessoas, outras pessoas podem mover você e nós podemos nos mover juntos.”


A Movement Generation está trabalhando com uma incrível variedade de organizações, tanto nacional quanto internacionais, por meio da Climate Justice Alliance. Pode nos contar um pouco sobre que está na Alliance e o que conquistaram até agora?

É um corpo incrível de pessoas que se organizou em suas comunidades há décadas. Nesse corpo, inclui a Indigenous Environmental Network, como fundadora e a Grassroots Global Justice Alliance, Right to the Right to the City Alliance, como membros fundadores. Essas redes de grupos de base estão profundamente enraizados. Elas trazem uma perspectiva das causas profundas destas crises em que nos encontramos. Entender que quando falamos de mudanças climáticas, não estamos falando apenas de gases de efeito estufa na atmosfera. Isso não é o problema, mas apenas o sintoma das causas básicas do problema, que vemos aqui mesmo, bem aqui em comunidades como Nova Orleans, Dakota do Norte, Detroit, Richmond, Califórnia, Kentucky. Estes são apenas alguns dos lugares que nossas comunidades estão liderando com a visão de um caminho diferente que isso pode tomar.

Isso é realmente o que os grupos da Climate Justice Alliance estão promovendo – um conjunto conectado e translocal de economias regenerativas – que é o que precisamos não apenas para resolver a crise climática, mas realmente para resolver todas essas crises que vemos em nossos tempos. Como as crises de desigualdades, que neste momento na pandemia global, vemos que tudo, desde o sistema industrial prisional até um vírus como o da COVID-19, percorrerá o mesmo caminho da iniquidade. E, então, isso tem que ser abordado. Esses são os tipos de coisa que essas comunidades da linha de frente e a Climate Justice Alliance estão projetando, desde o início.

Também quero encorajar as pessoas a conferirem um jornal que a Movement Generation criou junto com a Climate Justice Alliance.


Muitas pessoas experimentaram ajuda mútua e democracia profunda pela primeira vez durante a pandemia. Você publicou recentemente um artigo descrevendo 10 razões pelas quais precisamos de comunidades permanentemente organizadas agora, que achei ser um caminho convincente para a transição das atuais iniciativas de organização comunitária para uma mudança sistêmica duradoura. Você pode expor algumas de suas razões para nossos leitores?

Meu amigo, como a Gopal Dayaneni, da Movement Generation, gosta de dizer que “a escala do problema não dita a escala da solução”. A escala do problema é do problema. Estamos em uma pandemia global porque temos uma globalização acentuada de maneira que o vírus pode viajar por todo o mundo. E, acabamos por fazer que muitas comunidades locais não conseguissem proteger suas vidas (estamos vendo nos sistemas de saúde).

Este artigo sobre o porqu precisamos ser organizados em nível comunitário realmente vem disso. Quero prestar um profundo agradecimento e homenagem às comunidades indígenas e nativas de todo o mundo, que são as comunidades originais

No momento, cerca de 30% dos locatários nos não pagaram o aluguel em abril, e acredito que será muito maior em maio, já que 26 milhões de pessoas entraram com pedido de seguro-desemprego nos EUA. Há uma chamada massiva para cancelamento de aluguéis (#CancelRent). A deputada Ilhran Omar acaba de apresentar essa fabulosa legislação que a exige [em nível nacional].

Precisamos de novas regras que codifiquem os direitos que estão sendo exercidos durante este período, o direito a um teto, o direito a um abrigo, o direito à saúde, até mesmo o direito à alimentação. As ideias que foram colocadas em nossas cabeças de que essas coisas são atribuídas apenas para aqueles que as merecem estão sendo destruídas agora. E, é nosso trabalho como organizadores, ou seja, como pessoas devemos nos organizar de maneiras diferentes e nos mover e pensar no compartilhamento e cuidado dos outros, acima do lucro e do acúmulo.

Essa é uma boa transição para o seu princípio “compartilhe, não acumule”. Pode falar sobre algumas das diferentes maneiras que as pessoas estão compartilhando umas com as outras?

Um exemplo realmente poderoso é #ShareMyCheck. O governo federal está distribuindo US$ 1.200 (mais US$ 500 por criança) para cada adulto que tenha documentos. Mas há muitas, muitas pessoas em situações irregulares que estão mantendo essa economia e que não vão receber um cheque (e realmente precisam dele). Ao mesmo tempo, há muitos de nós, inclusive eu, que estão recebendo um salário. Então, eu vou dividir meu cheque, e meu parceiro vai dividir o dele.

Essa é uma ação translocal que as pessoas podem realizar para compartilhar localmente e por meio de fundos como o UndocuFund, que apoia pessoas sem documentos nos EUA, o fundo de coalizão da nova economia que apoia organizações de linha de frente de base e um fundo de catadores criado para apoiar catadores na Índia e muito outros lugares.

(Escute ao nosso episódio do podcast da The Response sobre UndocuFund aqui.)


Eu realmente gosto do modo como vê e trata os choques, deslizamentos e mudanças climáticas. Que oportunidades você está vendo nesse momento?

Vamos voltar ao que eu estava falando em relação à habitação. A crise habitacional é um exemplo de uma queda que vem acontecendo há décadas, e esse choque está gerando algumas mudanças sociais. Se conseguirmos que a vontade política possibilite o movimento do financiamento público e o capital privado em escala, podemos garantir que os inquilinos podem comprar seus prédios e colocá-los em fundos de terras ou outros veículos para mantê-los no controle da comunidade perpetuamente.

Se pudermos fazer isso, teremos conquistado grandes mudanças em direção a essa visão permanente de economias regenerativas. Também, podemos fazer isso em alimentos, resíduos e energia. Este é um momento em que há muitas oportunidades para mudanças nos sistemas de que precisamos para viver.

Essas mudanças serão de natureza translocal. Em outras palavras, aqui em Oakland e Berkeley, nossos conselhos municipais aprovaram atos de opção de compra do inquilino, onde os inquilinos de prédios têm o direito de recusa de compra de seu prédio quando ele for colocado à venda. Mas não podemos fazer isso apenas em Berkeley e Oakland, precisamos fazer isso em todos os lugares. Então, precisamos dessas mudanças de regras, elas podem parecer um pouco diferentes nos distintos lugares. Não há mais zonas de sacrifício.

Esses são os tipos de mudanças que realmente temos a oportunidade de fazer neste momento.


Há mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar?

Uma das maiores aberturas deste momento é que as pessoas estão reavaliando como se movem, vivem e passam seu tempo. Avaliando se estão vivendo sua vida de acordo com seus valores e prioridades.

Se você se organizar em torno da posição em que está, o papel que desempenha – trabalho, não empregos – funções críticas como enfermeiros, professores, trabalhadores humanitários, prestadores de serviço de alimentação, agricultores, pais, crianças, podemos trazer uma perspectiva, liderança e voz à mesa de maneiras que levarão a comunidades permanentemente organizadas. É disso que precisamos para passar por essa transição, que será longa e difícil.

Mas, se nos mantivermos juntos e nos apoiarmos na conexão, interconexão, cuidado, cooperação, reciprocidade e na sacralidade da vida, de cada um, seres incríveis, totalmente diferentes e únicos, que possuem um propósito, então acredito que mudaremos o jogo. Poderemos dizer que fizemos o que precisávamos fazer quando estávamos com a corda no pescoço e nos certificamos de conseguimos dar a volta por cima. Nós realmente teremos usado nossos superpoderes para nos unir com nossos esquadrões, equipes, coletivos e famílias para trabalhar juntos e mudar o jogo.
Linha com estrela

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