Esperança para os mais distantes: ajuda comunitária rural nos Camarões
Quando ela era uma menina, Leontine Sinda sofreu um ataque de malária que quase a matou. Ela passou um tempo fora da escola, em Ehuet, uma aldeia nas montanhas de Camarões, com sua avó. Ehuet era incrivelmente remota; obter água fresca para as refeições diárias significava descer a montanha com um balde. Se alguém adoecesse, a instalação médica mais próxima ficava a 50 quilômetros de distância - uma viagem que exigia três horas a pé antes de chegar a um caminhão para percorrer o resto do trajeto. A malária de Sinda levou-a a entrar em choque e, com a escassez de opções de tratamento médico, ela mal sobreviveu. Tornou-se claro para ela, em seguida, o quão sortuda ela tinha sido de passar por sua provação, e como poucos outros compartilhavam sua boa sorte. “Foi horrível”, lembra Sinda, “e apesar de eu ser criança, eu me perguntei: por que essa comunidade é diferente? Por que é que eles não têm as instalações que você encontra na cidade?” Essas perguntas queimaram dentro dela e se tornaram a faísca para o trabalho de sua vida. “Eu tive o pensamento, você sabe, nós podemos fazer algo para esta comunidade. E essa foi a minha principal motivação para estudar medicina”.
Depois de perder sua avó para um caso maltratado de pneumococo, Sinda decidiu se especializar no tratamento e prevenção de doenças infecciosas. Ela também começou a pensar sobre o alcance de seus objetivos humanitários. Em 2006, ela iniciou a associação Peer Educators Actions em Camarões, viajando para aldeias remotas e instruindo os jovens sobre os perigos do sexo inseguro e sobre a prevenção da propagação de doenças como HIV e AIDS. No entanto, Sinda logo achou seu papel focado somente em conscientização, extremamente limitante. “Ao trabalhar com a associação”, disse ela, “descobri que havia muitas comunidades com os mesmos problemas”. Essas questões - falta de acesso a roupas, educação e tratamento médico; violência doméstica e opressão feminina; e nenhum conhecimento de prevenção de doenças - requeria algo em uma escala maior. "Para mim, para resolver os problemas que estou vendo", ela disse, "preciso pensar em algo maior".
“Eu pensei que nós podemos fazer algo para esta comunidade. E essa foi a minha principal motivação para estudar medicina”.
Em 2010, Sinda fundou a St. Leonard Health and Research Foundation, uma organização não governamental dedicada à promoção e provimento de educação, inclusão socioeconômica, atenção primária à saúde, direitos humanos e abordagens preventivas de doenças infecciosas e câncer, bem como o reforço das capacidades dos trabalhadores vinculados aos cuidados de saúde nos centros de saúde rurais em Camarões e na África. Três das filiais de St. Leonard – uma do ramo Educacional, onde uma nova geração de profissionais de saúde é treinada; uma do ramo de assistência médica, oferecendo tratamento a pessoas de uma clínica médica em Limbe; e uma do ramo de pesquisa, que se concentra no tratamento e prevenção do HIV / AIDS e tuberculose, vacinas contra malária e tratamento de outras doenças infecciosas - permitiu que Sinda financiasse e impulsionasse a quarta filial da Fundação, a organização humanitária Humanitarians Without Borders.
Humanitarians Without Borders fornece assistência à comunidade para populações remotas e carentes em Camarões. Através desta organização, Sinda e seus colegas se concentram em capacitar os estudantes rurais para se tornarem profissionais de saúde, integrando educação, tecnologia e oportunidades clínicas. Eles também instituíram um programa para registrar certidões de nascimento para crianças em comunidades rurais - uma exigência para a admissão na escola secundária, e um passo crítico para romper o ciclo da pobreza, eliminando o analfabetismo. Os Humanitarians Without Borders também estabeleceram programas para promover e educar sobre a igualdade de gênero, observando que as atitudes prejudiciais em relação às mulheres impedem a paz, perpetuando a injustiça contra metade da população. A Fundação tem metas ambiciosas, mas Sinda não se desencoraja. “A África tem tantos desafios, mas eu não vejo esses desafios como um obstáculo para a minha missão. Eu os vejo como oportunidades para trazer a mudança que eu quero ver acontecer na minha comunidade.” Através de seu trabalho, Sinda está compreendendo o desejo que acendeu nela quando garotinha, para alcançar sua comunidade e fazer a diferença.
"Eu preciso fazer alguma coisa", ela enfatiza. “Você não espera que as pessoas venham; você começa e as pessoas podem te seguir se quiserem. Você não força as pessoas.” Ela canaliza um conhecido chamado à ação, “Nós somos aqueles que estamos procurando. Nós trazemos a mudança que queremos ver. Você não espera que pessoas de outro lugar venham e tragam essa mudança em sua comunidade quando você não fez nada."
“A África tem tantos desafios, mas eu não vejo esses desafios como um obstáculo para a minha missão. Eu os vejo como oportunidades para trazer a mudança que quero ver acontecer em minha comunidade ”.
No dia 9 de setembro de 2017, as tensões de décadas entre as regiões de língua inglesa e francesa de Camarões entraram em guerra total - um conflito chamado a Crise Anglófona (também conhecida como a Guerra Ambazonia). A disputa resultante lançou uma nação que já lutava, em mais desordem, e as pessoas mais afetadas foram aquelas em aldeias remotas e rurais. Muitas pessoas foram deslocadas internamente, e os refugiados da África Central e além foram também inundados devido a problemas catastróficos nos seus próprios países. A crise também prejudicou diretamente a missão de Sinda. Devido a preocupações de segurança, a clínica médica de St. Leonard em Limbe, que estava inicialmente disponível para pacientes 24 horas por dia, agora tinha que ser fechada às 18h. A crise também fez com que a maioria dos estagiários médicos de Sinda fugissem, afetando seriamente sua capacidade de trabalhar com o Humanitarians Without Borders.
Durante um momento particularmente sombrio, em julho de 2018, todos foram forçados a ficar em casa. Trancada e solitária, Sinda estava ficando deprimida. Foi então que ela deparou com algo que não apenas elevaria seu ânimo, mas também reacenderia nela o que foi desperto quando ela era apenas uma menininha em Ehuet. “Um dia eu estava com meu tablet e vi um post que dizia: Seu amigo clicou em 'like' para esse grupo, o grupo idealista. Eu disse, Uau, deixe-me ver por que esse amigo meu postou nesse grupo.” Depois de registrar a Fundação de Saúde e Pesquisa de St. Leonard na rede idealista, ela encontrou a descrição da missão dos idealistas. “A missão estava seguindo as mesmas linhas do que eu tinha em mente”, lembra ela. "Fazer o bem. Amor. Generosidade. Respeito mútuo. Sua missão estava alinhada com o que estou fazendo.”
Quando Sinda descobriu os Dias Idealistas e a comunidade mundial que se uniu para fazer o bem no mundo, isto lembrou-lhe por que ela começou sua missão todos esses anos atrás. “O Idealist Day é como um catalisador em mim para destacar o que eu tenho feito”, diz ela. “Estou fazendo isso com tanta paixão e empolgação. Estou tão feliz com este dia porque é um dia que está me lembrando: essa é a sua missão. Então você tem que assumir. Continuar e continuar e continuar. Estou feliz por ter encontrado uma família - uma família idealista, que está me acompanhando”.
Encorajada por esse senso de comunidade global, Sinda começou a planejar suas próprias atividades no Dia Idealista. No dia 7/7, ela organizou um seminário intitulado ‘Sobre a erradicação das doenças tropicais negligenciadas, através da prevenção’, na sede de St. Leonard em Limbe, instruindo as crianças sobre métodos para evitar parasitas e doenças perigosas. Em 8/8, Sinda e seus colegas educaram mulheres sobre saúde reprodutiva, doenças infecciosas e violência doméstica, em sua clínica. Eles também realizaram exames gratuitos para mulheres para checar diabetes, hipertensão e HIV.
Em 9/9, exatamente um ano após o início da Crise Anglófona, Sinda reuniu um grupo na Ponte Wabane, no sudoeste de Camarões. O Apelo Idealista para a Ação em setembro foi realizar encontros em pontes, e para Sinda, esta reunião da ponte foi especialmente significativa. A ponte Wabane, que Sinda chamou de Ponte da Paz, simbolizava um desejo de conexão e comunhão entre os povos de Camarões, dilacerados pelo conflito tribal. Além disso, a vegetação exuberante das plantas medicinais ao redor da ponte destacou não só a missão particular de Sinda como clínico e pesquisador, mas também a maneira pela qual o alcance médico e a busca da paz andam de mãos dadas. "A natureza curativa dessas plantas é, para nós, lembrar que não podemos pregar a paz para as pessoas que estão doentes", diz ela. "Eles precisam ser curados em sua mente, corpo e alma."
Sinda continua seu trabalho clínico e humanitário, planejando eventos educacionais e exames médicos, bem como roupas, medicamentos e tratamentos em dias idealistas, mesmo nas aldeias mais remotas de Camarões. “Quando faço minha ação humanitária”, ela diz, “faço isso com toda a minha mente e alma, faço isso com toda a paixão que posso fazer”. E, embora alcançar algumas dessas aldeias possa ser traiçoeiro, Sinda permanece implacável. "Eu não estou com medo. Se eu tiver que pegar uma bicicleta em uma estrada e cair dez vezes antes de chegar, eu vou. Ou se a bicicleta me atrasar, vou até a pé subindo a montanha para dar tratamento às pessoas. Eu não me importo. Eu vou porque eu sei que aquelas pessoas lá, elas não têm esperança. Eles não têm nada."
“Mas”, ela acrescenta, “ainda que haja somente uma pessoa que eu possa ajudar, significa que encontrei meu propósito. Eu chego nessas comunidades e sempre digo que há esperança. Há esperança de um amanhã melhor.”
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Quem sabe no próximo Dia do Idealista você não comemora com a Sinda e os Idealistas dos Camarões.
Autoria
Angel Eduardo (angel@idealist.org)
Produtor de Conteúdo e Escritor no Idealist
Tradução
Poliana Guerra (poliana@policontent.com.br)
Escritora na PoliContent e Idealista de Nova Era
Angel Eduardo tem histórias publicadas no The Caribbean Writer, Mr. Beller's Neighborhood, e Label Me Latino Journal. Mais de seu trabalho (em inglês) pode ser encontrado em sua website www.angeleduardo.com.