Hackeando Narrativas: Histórias e Mentorias semeiam a Esperança a Mulheres em Serra Leoa
No dia 4 de maio de 2019, em uma sala de conferências em Freetown, Serra Leoa, as mulheres se reuniram para contar suas histórias. A reunião tinha como objetivo promover a orientação e incentivar o empreendedorismo das jovens mulheres de Serra Leoa, lideradas por mentoras mais velhas que estavam ali para compartilhar suas experiências. Essas mentoras também eram mulheres de Serra Leoa, profissionais que haviam se mudado para diferentes partes do mundo para seguir suas carreiras. Eles voltaram para casa em férias, mas reservaram um tempo para a conferência, a pedido de Elizabeth Brewah, uma idealista e humanitária em Freetown. "Eu disse a elas: 'Sim, vocês vêm de férias, mas eu preciso de um pouco do seu tempo'", diz ela. “Apenas um dia, para unir as mulheres e mudar sua mentalidade.” Para Elizabeth, a conferência era um passo crítico no sentido de inspirar esperança e mudança para as jovens de Freetown. O plano era que, por meio dessas mentoras, as moças pudessem ser inspiradas e ajudadas a ter sucesso, para que pudessem continuar, ser também mentoras e inspirar outras pessoas, retribuindo na mesma moeda. “Um dos problemas que temos em Serra Leoa”, observa Elizabeth, “é que muitas mulheres frequentam escolas, têm mestrado, são formada, tem diplomas, mas todas querem trabalhar em um escritório fechado com ar-condicionado e coisas assim, quando têm habilidades dentro delas que podem usar para impactar não apenas suas vidas, mas também suas comunidades. ”
Foi esse desejo de ajudar as mulheres a mudar suas narrativas que levou Elizabeth a pedir a suas amigas que contassem suas histórias na conferência. “Eu disse a elas que deveríamos nos unir. Eu organizarei, reunirei pessoas, permitirei que as pessoas se apresentem de bom grado, e nós podemos ensiná-las. Você pode contar suas histórias - porque acredito que para toda vida de sucesso há uma história por trás disso. ”Uma mulher que falou na conferência era uma estilista que vive no Reino Unido. Ela contou a história de seu marido a deixando por causa de seu peso e das dificuldades que enfrentou ao tentar criar uma marca de moda sozinha, do nada, desde o princípio. Demorou sete anos, mas em 2018 ela a lançou com grande sucesso. "Todo mundo estava inspirado", lembra Elizabeth. "Então usamos esse momento, naquele dia, para transformar a mente de mulheres e meninas e dizer a elas: 'Você não precisa ser médica; você não precisa ser advogada. Sim, essas profissões são boas, mas com as habilidades que Deus lhe deu, você poderá impactar sua vida e também impactar sua comunidade e transformar a vida de outras pessoas. '"
Quando vejo alguém pobre, isso me traz de volta à minha história e me faz querer que a pessoa seja como eu agora. Não sou rico, mas tenho comida na minha mesa. Eu tenho um lugar para dormir. Então esse é o fardo que tenho dentro de mim, dar aos pobres, transformar suas vidas. Por menor que seja, mesmo que eu só tenha cinco minutos, eu arranjo tempo para essas ações.
Elizabeth não é marinheira de primeira viagem em mudança de narrativas. De fato, sua própria história é uma prova de perseverança. Ela nasceu a caçula de três irmãs, em situação de extrema pobreza, onde a comida era escassa e a sobrevivência era uma luta diária. Em 1991, as condições pioraram para sua família quando Serra Leoa se envolveu em uma guerra civil que duraria onze anos. No meio do conflito, quando Elizabeth tinha 8 anos, ela foi capturada e estuprada à mão armada pelos rebeldes da Serra Leoa. Apesar do trauma, Elizabeth permaneceu firme e esperançosa, indo para a escola com sonhos de se tornar advogada. No entanto, em 2004, quando Elizabeth tinha 17 anos, seu pai faleceu, puxando sua família, que já estava lutando, para uma situação ainda mais sombria. “Devido ao tipo de vida em que cresci, na pobreza, onde até conseguir comida era muito difícil”, diz Elizabeth, “fui à escola quando meu pai faleceu com a ajuda de uma organização que me deu uma bolsa de estudos”. Infelizmente, esse dinheiro era só para isso. “Quando terminei a escola, queria ser advogada. Passei no vestibular, mas não havia dinheiro [para pagar a faculdade de direito], então decidi fazer um curso técnico em estudos de paz e conflito. ”
Foi durante seu tempo na escola que Elizabeth descobriu outra opção para si mesma. “Os palestrantes que tivemos”, ela lembra, “a maioria deles era de Serra Leoa mas estudaram nos EUA e em outros lugares, e retornaram ao seu país. Aprendi com eles que não deveria apenas ter educação, mas também devolver à minha comunidade e ao meu país como um todo. Desde então, decidi começar a me desenvolver como humanitária. ”
Em 2018, Elizabeth descobriu os Idealistas do Mundo. “Vi o Idealist no Facebook e pesquisei sobre o significado de 'Idealista', e fiquei muito interessada em fazer parte da comunidade.” Elizabeth rapidamente começou a fazer conexões com outros idealistas do grupo, alguns dos quais refletiam as mentorias que ela acabaria incentivando em sua própria comunidade em Freetown. "Existe essa senhora na Grécia, Lela", lembra ela. “Ela é conferencista de uma universidade; professora, na verdade, e começamos a conversar e eu contei a ela minha história. Ela disse: 'Elizabeth, eu não tenho dinheiro para dar a você, mas vou orientá-la até o meu último dia', “e ela tem sido incrivelmente ótima.” Além de todas as pessoas e conexões que ela fez através do grupo, Elizabeth também sente fortemente a própria mensagem idealista. “Um Idealista é uma pessoa que acredita em si mesma e acredita que outras pessoas devem ter uma vida digna. Acredito que, com o pouco que tenho, com as conversas que estou tendo com as pessoas, posso impactar suas vidas. ”
Hoje, Elizabeth participa de todos os esforços possíveis para fazer o bem em sua comunidade e orientar os que estão ao seu redor. Em maio de 2019, ela começou a trabalhar com a Home Leone, uma organização de caridade focada na mobilidade ascendente sustentável para os pobres em Serra Leoa. Ela também participou de uma maratona para angariar fundos para bebês doentes, oficinas de joalheria para mulheres em aldeias locais e atividades de limpeza em Freetown com outros voluntários no Dia de Boas Ações. Elizabeth até substituiu a mãe, professora, quando sua artrite a impediu de dar aula. “Durante meu período como voluntária”, ela lembra, “eu descobri que muitas meninas vinham à escola sem almoço, sem sapatos e bolsas. Fiz uma campanha no Facebook e as pessoas doaram e foi assim que pude ajudá-las. ”Inspirada nessas garotas e em seu potencial, Elizabeth fez uma promessa a si mesma e a elas de orientá-las à medida que crescem e avançam na vida. . “Vai continuar na universidade”, ela diz, “com a ajuda de amigas daqui, por causa da promessa que fiz às meninas.” Esse é um dos muitos projetos de longo prazo de Elizabeth, e ela não tem reservas quanto a doar energia a quem pode usar sua ajuda. "Vi a pobreza, vivi na pobreza", diz ela. “Eu sei o que significa para nós na África sermos pobres. Então, quando vejo alguém pobre, isso me traz de volta à minha história e me faz querer que a pessoa seja como eu agora. Não sou rica, mas tenho comida na minha mesa. Eu tenho um lugar para dormir. Então esse é o fardo que tenho dentro de mim, dar aos pobres, transformar suas vidas. Por menor que seja, mesmo que eu só tenha cinco minutos, eu arranjo tempo para essas ações."
Durante sua jornada, Elizabeth começou a reconhecer que seu talento reside na orientação - sua capacidade de ajudar as pessoas a se ajudarem. “Tenho um presente dentro de mim que sempre tento utilizar em todos os lugares que vou. Se você tem uma visão e precisa de alguém para tornar sua visão prática para as pessoas verem, eu sou capaz de fazer isso. Então, eu uso esse talento em todos os lugares que vou, tentando impactar os jovens. ”Foi quando Elizabeth começou a pensar em maneiras de organizar encontros para mulheres jovens em Freetown e em como ela chegou à ideia de ter mulheres bem-sucedidas para contar suas histórias, oferecer orientação e incentivar o empreendedorismo.
Enquanto organizava a conferência, Elizabeth percebeu que também precisaria contar sua própria história. Apesar de ter superado tantas lutas da vida, o simples ato de compartilhar tudo era assustador para ela. “No começo, quando tive a ideia, fiquei nervosa”, lembra ela. Foi quando um colega idealista mais uma vez ofereceu a Elizabeth algum incentivo e orientação. “Quando eu estava me situando, essa senhora, Lela, na Grécia, dizia: 'É melhor você contar sua história. Isso pode mudar uma vida. Portanto, não guarde isso para si. 'Isso mudou minha percepção. ”Com isso em mente, Elizabeth se juntou às outras profissionais na conferência e contou sua história. Não foi apenas catártica para Elizabeth, mas o efeito de sua história - e também dos outros mentores - nas jovens da conferência é algo de que Elizabeth tem muito orgulho. "Todo mundo está pedindo outro", diz ela. “Então, vamos organizar um em uma segunda cidade na Serra Leoa, e esperamos ter muitas mulheres. Estou ansiosa por isso. Foi positivo e elevou muito meu ânimo.
Elizabeth está esperançosa e ambiciosa, com a intenção de espalhar a mensagem Idealista em Serra Leoa. "Eu tenho visto o Idealist como um fórum", diz ela. “Eu estava pensando em organizar uma conferência para Idealistas em Serra Leoa, para talvez 50 ou 100 pessoas, e podemos usar o ‘Idealists’ alinhado a nossos objetivos de desenvolvimento sustentável.” Isso começa, ela diz, simplesmente espalhando a palavra. "Estou usando meu tempo para contar às pessoas sobre o grupo idealista, e se elas estão dispostas a vir, ótimo. Se eles não estiverem dispostos, eu sei que quando começar, eles virão se juntar a mim. ”Para Elizabeth, ser Idealista tem tudo a ver com mudar narrativas, agir e fazer esforços - grandes e pequenos - para tornar o mundo um lugar melhor; tudo isso perfeitamente alinhado com seus princípios de orientação, esperança e mudança. "É realmente importante", diz ela. “Acho que não é apenas sobre a publicação no Facebook - é sobre dizer às pessoas que você tem que ser um Idealista, não importa quão pequenas [suas ações], não importa onde você esteja no mundo. Você pode estar nos EUA, eu posso estar aqui, mas posso inspirar você. É nisso que acredito como idealista. "
Tradução: Poliana Guerra (poliana@policontent.com.br) é escritora na PoliContent e Idealista de Nova Era.
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Angel Eduardo tem histórias publicadas no The Caribbean Writer, Mr. Beller's Neighborhood, e Label Me Latino Journal. Mais de seu trabalho (em inglês) pode ser encontrado em sua website www.angeleduardo.com.